Gilson
Feijão[1]
Ao escrever este texto, penso especialmente na realidade de nossas
comunidades eclesiais aonde somos chamados a fazer a experiência do encontro e
convivência com Cristo e com os irmãos.
Recordo com muita alegria do testemunho de São Lucas no livro dos Atos dos
Apóstolos, quando este relata que os cristãos “mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão
fraterna, à fração do pão e às orações” [2]. Este, portanto, é para nós o genuíno retrato da verdadeira comunidade
de Jesus.
A
comunidade de Jesus é sem dúvida uma antecipação do reino dos céus. O paraíso
aqui na terra. Lembremos também que nessa comunidade, houve grandes conflitos,
porém, estes não abalaram a fé de seus membros que permaneceram unidos
construindo a mais linda história de amor ao Reino de Deus e aos irmãos. Com os
conflitos, cresceram na unidade, no amor, na fidelidade à Igreja. Eles se
acolhiam entre si embora sabendo das limitações de cada um. Talvez este seja o
nítido grande segredo da convivência comunitária e que não conseguimos perceber.
A
maior dificuldade, porém, é que não conseguimos aceitar a existência de coisas maiores
que podem nos unir, do que aquelas que nos dividem. Penso que a vida
comunitária esteja sendo contaminada por correntes ideológicas secularizadas
que não aceitam limitações, erros ou imperfeições. Lembremos que se não fossem
estas coisas, a vinda de Cristo a terra não seria necessária, o que devemos entender
é que precisamos abraçar sua graça e acolhê-lo em nosso meio.
Acolher o Cristo no meio de nós é acolher uma proposta de comunidade
onde as limitações, as imperfeições, as diferenças, nos levam à unidade. Muitas
vezes por conta de convicções que nem sempre são evangélicas, esquecemos disto
e nossa maior alegria, ao invés de ser a de acolher o outro diferente de mim,
acaba sendo o gosto de poder ter feito alguma coisa que levou o irmão a se
afastar da comunidade e desacreditar que esta é o lugar da família de Deus,
aonde Ele é presente e atuante. A nossa mania de fazer com os outros se sintam
mal ao nosso lado ofusca a presença de um Jesus que encontra cada vez mais
dificuldades de se integrar à nossa realidade comunitária tão desfigurada.
Quantas
vezes vemos irmãos que passam um “tempinho” sem ir à comunidade e só percebemos
sua ausência na hora que voltam ou nem isso. Não somos capazes sequer de dar um
telefonema ou fazer uma visita, para sabermos quais suas necessidades e
dificuldades. Ao invés disso preferimos pensar que ele anda longe por preguiça
ou porque não quer mais compromisso e que é melhor que esteja longe mesmo, ao
menos não irá mais interferir em meus planos pessoais (que digo serem de Jesus)
que tenho para a vida da (minha) comunidade.
Enquanto isso vestimos nossas camisas com as estampas de nossas pastorais,
vestimos nossas opas e túnicas e temos a ousadia de dizer-nos membros da Igreja
de Cristo, pregadores, anunciadores da Palavra de Deus quando nossa vontade se
impõe à de Jesus, derrubamos sua Igreja, levantamos a nossa própria, com nossas
idéias, nossos pensamentos, segundo nosso coração, enquanto tudo deveria ser
segundo o coração Dele.
A
acolhida dos diferentes tornou-se um grande desafio para nós cristãos hoje (não
ontem e nem amanhã). Lancemo-nos irmãos no coração Dele, na vontade Dele e
sejamos capazes de acolher-nos como Ele nos acolheu em nossas misérias.
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