segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O desafio da Acolhida nas Comunidades Eclesiais.

Gilson Feijão[1]

Ao escrever este texto, penso especialmente na realidade de nossas comunidades eclesiais aonde somos chamados a fazer a experiência do encontro e convivência com Cristo e com os irmãos.
            Recordo com muita alegria do testemunho de São Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, quando este relata que os cristãos “mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações” [2]. Este, portanto, é para nós o genuíno retrato da verdadeira comunidade de Jesus.
            A comunidade de Jesus é sem dúvida uma antecipação do reino dos céus. O paraíso aqui na terra. Lembremos também que nessa comunidade, houve grandes conflitos, porém, estes não abalaram a fé de seus membros que permaneceram unidos construindo a mais linda história de amor ao Reino de Deus e aos irmãos. Com os conflitos, cresceram na unidade, no amor, na fidelidade à Igreja. Eles se acolhiam entre si embora sabendo das limitações de cada um. Talvez este seja o nítido grande segredo da convivência comunitária e que não conseguimos perceber.
            A maior dificuldade, porém, é que não conseguimos aceitar a existência de coisas maiores que podem nos unir, do que aquelas que nos dividem. Penso que a vida comunitária esteja sendo contaminada por correntes ideológicas secularizadas que não aceitam limitações, erros ou imperfeições. Lembremos que se não fossem estas coisas, a vinda de Cristo a terra não seria necessária, o que devemos entender é que precisamos abraçar sua graça e acolhê-lo em nosso meio.
Acolher o Cristo no meio de nós é acolher uma proposta de comunidade onde as limitações, as imperfeições, as diferenças, nos levam à unidade. Muitas vezes por conta de convicções que nem sempre são evangélicas, esquecemos disto e nossa maior alegria, ao invés de ser a de acolher o outro diferente de mim, acaba sendo o gosto de poder ter feito alguma coisa que levou o irmão a se afastar da comunidade e desacreditar que esta é o lugar da família de Deus, aonde Ele é presente e atuante. A nossa mania de fazer com os outros se sintam mal ao nosso lado ofusca a presença de um Jesus que encontra cada vez mais dificuldades de se integrar à nossa realidade comunitária tão desfigurada.
            Quantas vezes vemos irmãos que passam um “tempinho” sem ir à comunidade e só percebemos sua ausência na hora que voltam ou nem isso. Não somos capazes sequer de dar um telefonema ou fazer uma visita, para sabermos quais suas necessidades e dificuldades. Ao invés disso preferimos pensar que ele anda longe por preguiça ou porque não quer mais compromisso e que é melhor que esteja longe mesmo, ao menos não irá mais interferir em meus planos pessoais (que digo serem de Jesus) que tenho para a vida da (minha) comunidade.
            Enquanto isso vestimos nossas camisas com as estampas de nossas pastorais, vestimos nossas opas e túnicas e temos a ousadia de dizer-nos membros da Igreja de Cristo, pregadores, anunciadores da Palavra de Deus quando nossa vontade se impõe à de Jesus, derrubamos sua Igreja, levantamos a nossa própria, com nossas idéias, nossos pensamentos, segundo nosso coração, enquanto tudo deveria ser segundo o coração Dele.
            A acolhida dos diferentes tornou-se um grande desafio para nós cristãos hoje (não ontem e nem amanhã). Lancemo-nos irmãos no coração Dele, na vontade Dele e sejamos capazes de acolher-nos como Ele nos acolheu em nossas misérias.



[1] MIPA da Paróquia Nossa Senhora de Guadalupe (Comunidade Cristo Rei), Manaus-AM.

[2] At. 2,42.

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