Pe. Sebastião Sant’Ana (*)
O Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família, convocado pelo Papa Francisco em 8 de
outubro de 2013 – para se realizar de 5 a 19 de outubro de 2014 –, tem movimentado
dioceses e paróquias do Brasil. Muitas delas, diante da dupla surpresa –
convocação do Sínodo e publicação da Exortação Apostólica A alegria do Evangelho – já assumiram 2014 como Ano da Família.
Urgente e necessário propor o
“evangelho da família”
O tema do Sínodo – Os desafios pastorais da família no contexto da
evangelização – foi
motivo de encontros, seminários e até mesmo de sínodos diocesanos, em que
agentes procuraram responder às 38 questões propostas pelo Documento de Preparação enviado pela Secretaria do Sínodo a
todas as dioceses do mundo.
“Hoje perfilam-se problemáticas até há poucos anos inéditas,
desde a difusão dos casais de fato, que não acedem ao matrimônio e às vezes
excluem esta própria ideia, até às uniões entre pessoas do mesmo sexo, às quais
não raro é permitida a adoção de filhos.” O Documento mostra numerosas novas
situações que exigem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja para
enfrentar esses desafios.
“Propor o Evangelho sobre a família neste contexto é mais
urgente e necessário do que nunca” – é a convicção que passa o texto vindo da
Secretaria do Sínodo. Os desafios da cultura atual pedem uma palavra nova da
Igreja sobre as questões familiares e imploram seja anunciado com entusiasmo o Evangelho da Família.
O “evangelho da família e da
misericórdia”
Segundo o Documento preparatório, a complexa realidade
familiar de hoje “encontra uma correspondência singular no vasto acolhimento
que tem, em nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a
ternura em relação às pessoas feridas, nas periferias geográficas e
existenciais: as expectativas que daí derivam, a propósito das escolhas
pastorais relativas à família, são extremamente amplas. Por isso, uma reflexão
do Sínodo dos Bispos a respeito destes temas parece tanto necessária e urgente
quanto indispensável, como expressão da caridade dos Pastores em relação a
quantos lhes são confiados e a toda a família humana”.
Evangelho da família e Misericórdia
divina é
um dos binômios inseparáveis que marcaram os pontificados de João XXIII e João
Paulo II. Serão canonizados dia 27 de abril próximo, quando a Igreja celebra a
Festa da Divina Misericórdia.
Atenção prioritária e redobrada
O beato João Paulo recomendou à Igreja uma atenção redobrada
às famílias que estão em situações especiais, de conflito ou irregulares: “Um empenho pastoral ainda mais
generoso, inteligente e prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido
para aquelas famílias que – muitas vezes independentemente da própria vontade
ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa – se encontram em
situações objetivamente difíceis”. (Familiaris Consortio, 77.)
O referencial para o trabalho com as famílias é Jesus e sua prática
revelada nos Evangelhos. Ele é o pastor que vai em busca da ovelha desgarrada;
quando a encontra, acolhe-a com carinho e, com grande alegria, a reconduz ao
rebanho e faz festa com os amigos.
Sofridas ou machucadas pela vida, as famílias carecem de profundo
acolhimento, misericórdia e compaixão. Os agentes de pastoral, portadores do
Evangelho, devem ser para as famílias machucadas ou perdidas a expressão de uma
Igreja acolhedora, misericordiosa, servidora, samaritana e inclusiva que, “com
os olhos fixos em Jesus” (Hb 12,2), revele o carinho salvador de Deus para com
todos, especialmente para com os pobres e os pecadores. “Deus ama as famílias,
apesar de tantas feridas e divisões” – lembra o Documento de Aparecida. (DA,
119.)
Fascinar com o “evangelho da família”
O
ponto de partida desse trabalho pastoral é tomar as pessoas na sua situação
real. Caso por caso, família por família. É a partir da realidade concreta das
famílias que estão em “situações difíceis” que se pode pensar um caminho a ser
percorrido, passo a passo, numa pedagogia de crescimento. João Paulo II
recomenda essa pedagogia: “A ação pastoral da Igreja deve ser progressiva,
também no sentido de seguir a família, acompanhando-a passo a passo nas
diversas etapas de sua formação e desenvolvimento”. (FC, 65.)
Essa
pedagogia aponta para Jesus que não entra em cena “cobrando comportamentos”,
mas proclamando a todos uma boa-notícia. Frei Antônio Moser observa: “As
exigências evangélicas não são ditadas por normas desencarnadas, mas por uma
pedagogia do amor. A força ou a fraqueza de uma norma se concretiza no fascínio
que ela desperta ou deixa de despertar. Uma vez fascinados por um ideal, os
seres humanos são capazes de tudo, inclusive de dar a sua vida por uma causa. Mas,
sem esse fascínio, se sentem impotentes, e mesmo revoltados. A tarefa primeira
do agente de Pastoral Familiar não é cobrar comportamentos, mas, a partir da
valorização das sementes divinas numa situação, fascinar os ouvintes por um
ideal.” (“A Pastoral familiar a partir dos menos favorecidos” – REB, 53, 1993,
pp 771-790.)
Conheço muitos agentes de pastoral familiar vivendo santamente; depois de
anos afastados da Igreja, alguns já em segunda ou terceira união, foram
encontrados por Cristo e se fascinaram por Ele. Mudaram de vida e hoje são
verdadeiros testemunhas dos valores familiares cristãos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário