terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

2014: Ano da alegria do Evangelho da Família

Pe. Sebastião Sant’Ana (*)


O Sínodo Extraordinário dos Bispos sobre a Família, convocado pelo Papa Francisco em 8 de outubro de 2013 – para se realizar de 5 a 19 de outubro de 2014 –, tem mo­vimentado dioceses e paróquias do Brasil. Muitas delas, diante da dupla surpresa – convocação do Sínodo e pu­blicação da Exortação Apostólica A alegria do Evangelho – já assumiram 2014 como Ano da Família.
Urgente e necessário propor o “evangelho da família”
O tema do Sínodo – Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização – foi motivo de encontros, seminários e até mesmo de sínodos diocesanos, em que agentes procuraram responder às 38 questões propostas pelo Documento de Preparação enviado pela Secretaria do Sínodo a todas as dioceses do mundo.
“Hoje perfilam-se problemáticas até há poucos anos inéditas, desde a difusão dos casais de fato, que não acedem ao matrimônio e às vezes excluem esta própria ideia, até às uniões entre pessoas do mesmo sexo, às quais não raro é permitida a adoção de filhos.” O Do­cumento mostra numerosas novas situações que exi­gem a atenção e o compromisso pastoral da Igreja para enfrentar esses desafios.
“Propor o Evangelho sobre a família neste contexto é mais urgente e necessário do que nunca” – é a con­vicção que passa o texto vindo da Secretaria do Sínodo. Os desafios da cultura atual pedem uma palavra nova da Igreja sobre as questões familiares e imploram seja anunciado com entusiasmo o Evangelho da Família.
O “evangelho da família e da misericórdia”
Segundo o Documento preparatório, a complexa re­alidade familiar de hoje “encontra uma correspondên­cia singular no vasto acolhimento que tem, em nossos dias, o ensinamento sobre a misericórdia divina e sobre a ternura em relação às pessoas feridas, nas periferias geográficas e existenciais: as expectativas que daí deri­vam, a propósito das escolhas pastorais relativas à famí­lia, são extremamente amplas. Por isso, uma reflexão do Sínodo dos Bispos a respeito destes temas parece tanto necessária e urgente quanto indispensável, como ex­pressão da caridade dos Pastores em relação a quantos lhes são confiados e a toda a família humana”.
Evangelho da família e Misericórdia divina é um dos binômios inseparáveis que marcaram os pontificados de João XXIII e João Paulo II. Serão canonizados dia 27 de abril próximo, quando a Igreja celebra a Festa da Divina Misericórdia.
Atenção prioritária e redobrada
O beato João Paulo recomendou à Igreja uma aten­ção redobrada às famílias que estão em situações espe­ciais, de conflito ou irregulares: “Um empenho pastoral ainda mais generoso, inteligente e prudente, na linha do exemplo do Bom Pastor, é pedido para aquelas famílias que – muitas vezes independentemente da própria vontade ou pressionadas por outras exigências de natureza diversa – se encontram em situações objetivamente difíceis”. (Familia­ris Consortio, 77.)
O referencial para o trabalho com as famílias é Jesus e sua prática revelada nos Evangelhos. Ele é o pastor que vai em busca da ovelha desgarrada; quando a encontra, acolhe-a com carinho e, com grande alegria, a reconduz ao reba­nho e faz festa com os amigos.
Sofridas ou machucadas pela vida, as famílias carecem de profundo acolhimento, misericórdia e compaixão. Os agentes de pastoral, portadores do Evangelho, devem ser para as famílias machucadas ou perdidas a expressão de uma Igreja acolhedora, misericordiosa, servidora, sama­ritana e inclusiva que, “com os olhos fixos em Jesus” (Hb 12,2), revele o carinho salvador de Deus para com todos, especialmente para com os pobres e os pecadores. “Deus ama as famílias, apesar de tantas feridas e divisões” – lem­bra o Documento de Aparecida. (DA, 119.)
Fascinar com o “evangelho da família”
O ponto de partida desse trabalho pastoral é tomar as pessoas na sua situação real. Caso por caso, família por família. É a partir da realidade concreta das famílias que estão em “situações difíceis” que se pode pensar um cami­nho a ser percorrido, passo a passo, numa pedagogia de crescimento. João Paulo II recomenda essa pedagogia: “A ação pastoral da Igreja deve ser progressiva, também no sentido de seguir a família, acompanhando-a passo a passo nas diversas etapas de sua formação e desenvolvimento”. (FC, 65.)
Essa pedagogia aponta para Jesus que não entra em cena “cobrando comportamentos”, mas proclamando a todos uma boa-notícia. Frei Antônio Moser observa: “As exigências evangélicas não são ditadas por normas desen­carnadas, mas por uma pedagogia do amor. A força ou a fraqueza de uma norma se concretiza no fascínio que ela desperta ou deixa de despertar. Uma vez fascinados por um ideal, os seres humanos são capazes de tudo, inclusive de dar a sua vida por uma causa. Mas, sem esse fascínio, se sentem impotentes, e mesmo revoltados. A tarefa primei­ra do agente de Pastoral Familiar não é cobrar comporta­mentos, mas, a partir da valorização das sementes divinas numa situação, fascinar os ouvintes por um ideal.” (“A Pas­toral familiar a partir dos menos favorecidos” – REB, 53, 1993, pp 771-790.)
Conheço muitos agentes de pastoral familiar vivendo santamente; depois de anos afastados da Igreja, alguns já em segunda ou terceira união, foram encontrados por Cristo e se fascinaram por Ele. Mudaram de vida e hoje são verdadeiros testemunhas dos valores familiares cristãos.

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