sábado, 1 de fevereiro de 2014

Famílias cristãs, vamos preparar bem a Campanha da Fraternidade 2014?

Pe. Sebastião Sant’Ana (*)



A Campanha da Fraternidade, um marco da Igreja no Brasil, poderia, apesar de sua brevidade, produzir resultados mais concretos e expressivos. No entanto, grande parte dos católicos só acorda para a importância da proposta feita a cada ano quando a Campanha está chegando ao fim. O efeito poderia ser bem mais positivo se conseguíssemos motivar, com antecedência, as lideranças das comunidades e as famílias cristãs para seus objetivos. Seu período é curto: começa na Quarta-feira de Cinzas e encerra-se na Páscoa. Concretamente, em 2014, inicia-se no próximo 5 de março e terminará em 20 de abril. Está praticamente na hora de começar. O que fazer?
A lição de Dom Oscar Romero
Muito interessante a estratégia de Dom Oscar Romero, o santo bispo assassinado em El Salvador em 24 de março de 1980. Por que o mataram? Sua palavra profética soava por todo o território nacional, conseguindo atingir profundamente a sofrida população salvadorenha. O país parava, aos domingos, ao pé do rádio, para ouvir as homilias transmitidas pela emissora católica “A Voz Panamericana”. Ultrapassaram-se os 75% de audiência. O arcebispo, no sermão, fazia uma revisão de tudo o que acontecia durante a semana na dura e sangrenta realidade de seu povo, iluminando-a à luz do Evangelho da esperança cristã. De toda a parte, o povo lhe escrevia sobre suas aflições e conflitos. Conseguiu, em pouco tempo, estar em diálogo com toda a população. Dom Romero tornou-se “a voz dos sem-voz.” Anunciava a boa-nova da parte de Deus para confortar e animar o povo sofrido e denunciava as atrocidades cometidas pelo governo militar contra o seu rebanho.
Palavra de Deus na vida do povo
Um dos segredos da popularidade do arcebispo mártir foi que, de segunda a sábado, partilhava com diversos grupos a reflexão sobre a Palavra de Deus a ser proclamada no domingo. Na segunda, era com as Irmãs do hospital; outro dia, com os padres; outro, com operários; e assim, com os camponeses, com as comunidades, com a equipe de redatores e repórteres da “A Voz Panamericana” e do jornal semanal “La Orientacion”, com os membros da assistência jurídica da arquidiocese e outros mais. Aos domingos, na celebração eucarística, sua palavra profética não era mais apenas a palavra do arcebispo; era a Palavra de Deus na Bíblia e na realidade sofrida do povo, misturada com o sangue derramado pelos opressores.
Os encontros durante a semana faziam com que a palavra anunciada na catedral e transmitida pela rádio, fosse assunto de conversa nas famílias, nas ruas, nos bares, nas escolas, nos locais de trabalho e em toda a parte. Quando a conversa surgia, quase sempre havia por perto alguém que havia participado dos encontros durante a semana com o arcebispo; tinha, então, condições mínimas de aprofundar os debates e fazer a ressonância necessária.
Paróquias usam com sucesso a estratégia
No Brasil, há paróquias que usam com sucesso estratégia parecida com a de Dom Romero, visando a Campanha da Fraternidade de cada ano. Com bastante antecedência, as lideranças das pastorais e movimentos são convidadas a adquirir o Texto-base. Duas ou três semanas antes do início da Quaresma, realizam a “Semana de Estudos do Texto-base”. Os encontros são feitos à noite e incluem palestras, trabalhos de grupos, debates, encenações, apresentação do vídeo da CF, etc. Líderes saem empolgados e com visão de conjunto das motivações que a proposta da nova Campanha está fazendo à sociedade e à Igreja.
Depois de feita a abertura oficial na Quarta-feira de Cinzas, quando nas celebrações, reuniões de grupos de famílias e nos MCS o tema vem à tona, há sempre alguém para funcionar como caixa de ressonância e em condições de aprofundar a conversa. Em pouco tempo, o assunto chega às famílias, às ruas, às escolas, aos locais de trabalho, às rodas de conversa do povo. Assim fica mais fácil mobilizar as pessoas para os objetivos que a Campanha da Fraternidade apresenta a cada ano.
Em 2014, “Fraternidade e tráfico humano”
A Campanha deste ano tem uma proposta preocupante, que não deixa nenhuma família cristã indiferente. O tráfico humano é crime muito bem organizado, com capilaridade em todo o país. É realidade quase invisível, que faz da pessoa uma mercadoria e que, silenciosamente, vem produzindo grande número de vítimas.
Ao lado da venda de armas e do comércio de drogas, o tráfico de pessoas está entre as três economias ilícitas mais rentáveis no mundo, sustentadas pelos pilares da miséria, da impunidade e da ganância.
Há informações de que empresas de turismo estão oferecendo, nos pacotes para a Copa, nossas adolescentes e jovens como mercadoria aos turistas estrangeiros. Vamos ajudá-las a abrir os olhos! Não podem tornar-se escravas. “É para a liberdade que Cristo que nos libertou!” (Gl 5,1) – enfariza o lema da CF 2014.
Se todos nos unirmos em torno da proposta da CF 2014 e denunciarmos essa realidade, poderá ser reduzido grandemente o número das vítimas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário