Pe. Sebastião Sant’Ana (*)
Fico feliz ao perceber que cresce o número das famílias cristãs que aceitaram o desafio de recristianizar o Natal. Estão conscientes de que cabe a elas o papel de proclamar e testemunhar que acolher Jesus – que veio, que vem e que virá – é a razão primeira dos festejos natalinos.
É gratificante perceber que casas e condomínios, lojas e empresas estão substituindo o Papai Noel por presépios e outros símbolos cristãos. Muita gente está descobrindo que o Natal de verdade não precisa ter a marca do consumismo ou dos gastos exagerados.
Natal, a festa da simplicidade e solidariedade
Natal é festa da simplicidade, da solidariedade e da iluminação interior, festa dos valores que tornam as pessoas mais humanas e mais parecidas com Deus. De fato, Jesus veio fazer-se um de nós, para fazer-nos participantes da família divina. “Ele veio para os que eram seus, mas os seus não o receberam... Mas a todos que o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.” (Jo 1,11-12.)
Natal é festa da simplicidade e do respeito à vida, que deve ser valorizada em todos os seres humanos. Celebrar o Natal do Menino Deus não nos permite esquecer nossos irmãos mais pobres, pois Jesus, em sua simplicidade e solidariedade, com eles se identificou e continua se identificando.
O Natal dos exageros de luxo e consumo, que esquece ou abandona os pobres e marginalizados, certamente não é o Natal do Menino Deus. O Natal de Jesus é a festa da família reunida, onde transborda a alegria verdadeira, mas regada com a simplicidade, a acolhida, o respeito e a solidariedade com os últimos. Natal é festa de ação de graças e do encantamento diante do gesto de Deus de fazer-se humano como nós, nascendo Menino com rosto de gente pobre, pequena e indefesa.
Maria Alice e o Natal Iluminado
Vítima de câncer, muito cedo se foi Maria Alice do Prado, minha amiga poetisa de Contagem, MG. Quando diretor-redator de O LUTADOR, pude partilhar com os leitores muitas de suas mensagens. Encantavam pela ternura, beleza e profundidade. Como homenagem póstuma à amiga, convido os leitores a apreciarem seu poema Natal iluminado. Mensagem mais que oportuna para as famílias que se preparam para viver em profundidade o mistério do Deus que vem ao nosso encontro. Confiram:
“Em todos nós brilha a centelha divina, o DNA de Deus. No corre-corre da vida vamos jogando entulhos sobre essa Luz interior, ofuscando e escondendo o seu brilho, mas ele continua lá.
Preparando para o Natal que se aproxima, poderíamos nos empenhar numa boa faxina interna. Há muito que ser jogado no lixo: orgulho, consumismo, vaidade, impaciência, intolerância, medo, falta de fé, mágoas... Retirado todo esse entulho e mais algum, vamos ficando mais leves e descobrindo a pura essência do Ser: o divino em nós!
De nada adianta encher a casa de pisca-piscas coloridos, bebidas importadas, comidas variadas, se a vida continua opaca, seca e sem gosto. Muito menos tomar a direção dos shoppings, se falta um sentido para a vida...
O verdadeiro Natal evoca a simplicidade, o despojamento completo, ao contrário dos milhares de sonhos e objetos de consumo que nos são oferecidos...
Um Natal verdadeiramente iluminado é aquele em que todos brilham: na alegria do Amor e da Partilha, na Aceitação, na Paz Interior, na Autenticidade e Transparência. O materialismo pagão não pode ocupar o espaço que é de Deus. Aquilo que buscamos na procura aflita das lojas, na correria das ruas, está bem dentro de nós.
Com ou sem presentes, podemos oferecer ao outro o melhor que temos: o brilho sagrado que emana da alma! Este transparece nos olhos, na fisionomia, no calor do abraço, no gesto de perdão, na presença amiga, no silêncio da prece... Que tenhamos todos, um santo e iluminado Natal!”
Natal com gestos concretos de solidariedade
Para que nosso NATAL seja maiúsculo, para que nesta festa nossas famílias acolham o verdadeiro presente, há muito ainda a fazer. Precisamos devolver a JESUS o lugar que lhe pertence.
A propósito, Pe. Zezinho tem um recado: “Nós cristãos, que apostamos na sua vida e na sua mensagem, precisamos ser diferentes. Se o Natal não é mais o mesmo, a culpa é nossa. Trocamos as igrejas pelo supermercado e pelo shopping. Usamos mais o cartão de crédito e os talões de cheque do que os nossos joelhos. Talvez estejamos adorando o Deus errado... O comércio fez o que fez em favor do penetra Papai Noel porque nós, cristãos, não fizemos o que deveríamos ter feito pelo dono da festa! Como está, virou a festa do velho que veio do Polo Norte e não a do Menino que veio do céu...”
Felizmente, são muitas as famílias que celebram o Natal de maneira simples e solidária, acolhendo Jesus com gestos concretos de amor aos pobres e sofredores.
(*) Pároco de N. Sra. de Guadalupe
Pq. das Laranjeiras – Manaus-AM
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